Portugal, Amarante, Fregim

Fregim Nobre Freguesia

Pretendo aqui falar da minha terra, que não o é de nascença, mas de vivência. Costuma-se dizer que pai não é só quem faz um filho, mas, mais importante, quem o cria. Assim, não tendo nascido em Fregim, tenho fortes raízes familiares nesta terra, que me acolheu desde muito miúdo. Pude assim passar os anos mais belos da minha vida, os da minha mocidade, nesta terra, percorrendo os seus caminhos, montes e campos, a pé ou de bicicleta, sempre em bandos de rapazes que passavam os dias a jogar à bola, enquanto acompanhávamos o pastoreio das ovelhas e cabras.

Esta terra foi sempre um local de passagem e de encruzilhada de viajantes, por muitos anos as estradas que a atravessaram, designadamente a estrada pombalina, que liga o Alto Douro à cidade do Porto e que foi igualmente, por décadas, uma via alternativa à estrada nacional n.º 15, entre Amarante e Vila Meã, que fazia a ligação de Trás-os-Montes ao Porto e vice-versa, traziam à freguesia um movimento importante, mormente, nos anos oitenta, que recordo com muita saudade.

Além disso, por ter sido por ter sido uma comenda da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta, teve em tempos remotos uma tradição de apoio aos peregrinos de São Tiago e de apoio a doentes e famintos, com a existência presumível de uma gafaria ou hospital da respetiva Ordem de Malta no Lugar de Fregim, da freguesia com o mesmo nome. Por isso, os cidadãos de Fregim, ou fregueses de Fregim são conhecidos como “malteses”.

Consta que na história administrativa/biográfica, “a freguesia de Santa Maria de Fregim era Vigararia e Comenda da Ordem de Malta, no antigo concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega, na antiga comarca de Guimarães, passando mais tarde a reitoria. Pertenceu ao antigo concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega, extinto pelo Decreto de 24 de Outubro de 1855, tendo passado para o de Amarante pelo Decreto de 31 de Dezembro de 1853. Da diocese de Braga passou para a do Porto em 1882. Comarca eclesiástica de Amarante – 4º distrito (1907). Primeira Vigararia de Amarante (1916; 1970).”

Camilo Castelo Branco na sua obra literária – “20 horas de liteira” – fala das suas passagens por Fregim e da personagem do Zé da Mó, que teria emigrado para o Brasil no final do século XIX na ânsia de ficar rico e que regressou ainda mais pobre.

É remota a povoação por humanos nesta freguesia, como se pode comprovar pelo castro da serra de São Jorge.

A festa anual é em meados de agosto, quando Fregim é invadida pelos seus filhos emigrados um pouco por todo o mundo, com uma bela procissão em homenagem à Imaculada Conceição, mais uma das muitas freguesias ligadas a Nossa Senhora, Santa Maria de Fregim.

Fregim foi igualmente palco da passagem das tropas de Napoleão, que invadiram a Casa da Capela pertencente à família do Capitão Augusto Casimiro e a incendiaram à partida. Capela que já não foi reconstruída por ter sido considerada profanada.

Os malteses de Fregim também ficaram conhecidos por montarem algumas emboscadas aos franceses que atravessaram a freguesia, rumo ao cerco da ponte de Amarante.

Esta freguesia possui inúmeras casas com interesse arquitetónico, tais como as já referidas Casas da Capela e da Mó, da Lage, da Obra, da Pedra, do Amarantinho, de São Miguel e as de Pousada, a do Visconde da Granja e a da Dona Emília de Sousa Ribeiro. Este nome, Pousada, tem a ver com o facto de este ser um local de paragem das antigas diligências e viajantes a cavalo, que pretendiam um excelente local de repasto e de repouso.

Na Casa da Pousada, originalmente do Comendador da Granja, viveu durante largos anos o Comendador José de Abreu, dono das antigas fábricas do Tabopan e nessa casa existia um enorme jardim, pomares de maças, de laranjas, vinhas, com produção própria de vinhos e aguardentes em lagares e alambiques da quinta. Em Fregim existem grandes empresas na área da metalurgia, como a Metalocardoso, a Metalúrgica do Tâmega e a Bertim. Existe também uma das maiores fábricas de fabrico de urnas funerárias, a Joricastro. Temos também um centro de abate de veículos motorizados em fim de vida, a Resource.

A freguesia é delimitada a sudeste pelo rio Tâmega e é atravessada pela ribeira de Fregim, conferindo-lhe uma frescura única nos dias de verão, pelo vale onde ela corre em curvas e contracurvas sinuosas, por entre penedias e saltando nas rochas alisadas pelo desgaste das correntes de inverno em degraus nas zonas de declive.

Junto ao Rio Tâmega existe um dos maiores e mais reputados parques aquáticos de toda a península ibérica, o RTA. Lá existe também o conceito de “A Aldeia do Tâmega” que está inserida no complexo RTA Tâmega Clube, situado num local privilegiado da freguesia de Fregim, sobre a margem do Rio Tâmega, situada a cerca de 5Km do centro da cidade de Amarante. Existe igualmente a Casa do Rio, que é um local fantástico para a realização de festas e grandes eventos, embora seja também um restaurante reputado. No mesmo complexo, está um dos mais famosos campos de golfe de montanha do país, pelo que é mais uma possibilidade de praticar desporto, em ótimas condições, na nossa freguesia.

Além disso, em Fregim há inúmeros locais onde se come muito bem: Tony, Aposta Delirante, Cala o Bico, o Picadeiro, Casa do Rio, Varandas do Tâmega, o Mirante, o Reis, Restaurante do Campo de Golfe. Assim, a nossa freguesia poderá ser uma bela aposta gastronómica para passar uns bons momentos de lazer e de contraponto com o passado. De referir que Fregim é conhecida pela qualidade do seu vinho verde branco e pelos tintos de Ribeira de Cabra, outro curso de água da freguesia.

Casa de Pousada

“O Grande Escritor Camilo Castelo Branco, refere-se a Fregim


O grande escritor português, Camilo Castelo Branco, refere-se às suas passagens por Amarante, no percurso Vila Real-Porto e vice-versa, de modo a que a afamada tradição hospitaleira e posição estratégica, da nossa então Vila e agora Cidade de Amarante, ficassem registadas de forma indelével, no Romance: “Vinte Horas de Liteira“.

(…) “Pernoutamos, em Amarante, numa estalagem, onde eu, annos antes, tinha visto tres bellas creaturas, filhas de uma grave e redonda mulher, dona da hospedaria.” (…)

Na qualidade de grande apreciador da extraordinária Obra Literária de Camilo Castelo Branco, onde o seu poder narrativo de romancista de excelência, o notabilizou como um descritor das paisagens social e física do século XIX Português, com uma clarividência fantástica na associação do ficcional com o real e que, designadamente, também abordou a nossa região e as suas vivências, quer enquanto viajante assíduo pelas nossas estradas e pousadas, quer enquanto personagem interclassista que teve orgulho de privar, por exemplo, com o famoso salteador “Zé do Telhado”, na sua estadia forçada na Cadeia da Relação, por motivos passionais, devido à sua paixão proibida por Ana Plácido, que resultou em crime de adultério.

Ainda mais orgulhoso fiquei na referência que faz no mesmo romance, à sua passagem por Fregim, onde contou a história ficcionada de “Manoel Brazileiros”, estribada em acontecimentos e personagem concretas.

(…) “Vimos nascer o sol do dia seguinte nas alturas de Pidre. Dalli, com o oculo do meu amigo, procurei entre as ramagens as ameias do manuelino portal da casa de Frigim. Esta casa fôra de José Augusto Pinto de Magalhães, cavalheiro que abriu no Porto, ha dez annos, uma chronica de infortúnios, e se fechou com ella n’uma valia do cemiterio do Alto de S. João, em Lisboa. Naquella casa tinha eu passado uma noute, ha doze annos. Referi a Antonio Joaquim a tragedia mysteriosa de José Augusto. Cahia a propósito contal a aqui ao leitor; mas, no mez que vem, ha-de boiar «no rio do negro esquecimento e eterno sono» mais um livro meu, desvelando a face enigmatica d’aquella grande desventura, que o mundo impiedoso quiz explicar com uma calunia maior.Quando avistamos o edifício magestoso de Alemtém, o meu amigo mandou-me apontar o oculo um tôpo de outeiro, em que se avistava uma cruz alpendrada, com um lampadario pendente do docel de abobada.— Tem um bonito romance aquella cruz — disse Antonio Joaquim. — Chamo-lhe eu bonito, porque encerra uma sublimada philosophia. Eu vim alli, ha tempos, comprar um potro n’aquella freguezia, e conheci, em casa do comprador, um sujeito, pequeno lavrador, a quem os da terra chamam o «Manoel brazileiro». Pelos trajos, encodeados de terra e remendados, entendi que o epitheto de brazileiro era epigramma popular com que a gentalha costuma alcunhar os patrícios que voltaram pobres do Brazil.” (…)

Aqui se fala de uma personagem que, encantado por estórias de gente que enriqueceu com a emigração para o Brasil, quis também para si esse “El Dorado”, mas que só encontrou o destino de muitos aventureiros em busca do desconhecido e em locais remotos, o cruel reverso da medalha da sorte… no fundo, Camilo Castelo Branco aborda nessa estória, a desmesurada ambição humana de enriquecer facilmente que, neste caso, incidiu sobre um pobre rapaz de Fregim, um tal Manuel do Lugar da Mó, Fregim, Amarante.

De facto, Fregim foi sempre um local de passagem dos viajantes que vinham de Trás-os-Montes para o litoral e vice-versa. O lugar da Pousada e a Casa de Pousada, não a pertencente ao Visconde da Granja e que posteriormente pertenceu ao Comendador José de Abreu, mas antes a Casa de Pousada, no mesmo local, que ainda pertence atualmente à família Sousa, de Pousada.

Em miúdo tive o privilégio de brincar e de visitar bastante esta casa, onde ainda eram visíveis os vestígios dos locais de amarração dos cavalos e de estacionamento das carruagens que lá paravam, para o repasto e descanso merecido dos ocupantes e dos animais que os transportavam. Tem também uma enorme cozinha, uma grande sala de jantar e muitos quartos e arrecadações, o que ajudou à sua função de Pousada. Recordo aqui esta prova documental da importância estratégica de Amarante, que paulatinamente vamos vilipendiando, mas que penso que não devemos deixar morrer… pelo contrário, deveremos tentar por todos os meios possíveis inverter, a nosso favor, a favor de uma Amarante que Dom Gonçalo encontrou na sua viagem e que, não mais abandonou, tornando-se o seu patrono! Quanto ao romance de Camilo, aconselho vivamente a sua leitura.”

Entrada Sul
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